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quinta-feira, 16 de maio de 2019

VALE DOS BONECOS - CIDADE DESERTA- NAGORO




       Saindo pela manhã, em direção ao templo 13, tivemos 8 km de descida bastante íngreme, percorrendo um total de 22 km (nível médio) até o templo DAINICHIJI.  Mas, o mais impressionante e curioso do caminho, foi chegar na baixada e começar a ver bonecos na cidade.
A cidade é praticamente deserta. Fui buscar mais informações a respeito desses bonecos de panos.
A cidade de Nagoro tem apenas 35 habitantes. Não há jovens ou crianças, somente idosos. A única escola da cidade fechou as portas em 2012.  Os jovens saíram em busca de estudos e trabalhos nas metrópoles. A pessoa mais jovem da cidade tem hoje 69 anos de idade. É a senhora Ayano Tsukimi.
No começo do ano 2.000 ela retornou a Nagoro, sua terra natal, depois de ficar décadas em Osaka. Isto porque, o seu pai faleceu e ela tinha que cuidar da mãe idosa na plantação.
Quando viu que os pássaros destruíam a plantação, resolveu fazer um espantalho de pano, kakashi em japonês. Esse kakashi, parecia seu pai trabalhando. Passado algum tempo, faleceu a vizinha, qual vinha quase todos os dias tomar chá na casa dela. Aí confeccionou uma boneca semelhante a vizinha, para dar bom dia. Dessa forma, quando um morador morria ou ia embora, ela substituía por bonecos.
Chegou a fazer mais de 400 bonecos, crianças, adultos, velhos, velhinhas, todos caracterizados: crianças brincando, andando de bicicletas, pessoas plantando, esperando ônibus, sentados no banco....
Os bonecos são substituídos a cada 2 ou 3 anos, uma vez que ficam no sol, na chuva....Foi uma forma de se sentirem menos sós. Tem até uma escola cheia de crianças, com professor e diretor. É um local de passagem dos peregrinos de Shikoku e hoje também é uma atração turística. Ela fica feliz de ver as pessoas fotografando os bonecos.
Pelo que li, há várias cidades, no Japão, desertas. Passamos num local onde havia um prédio que parecia ter sido um hotel, totalmente abandonado. Muito estranho, ainda havia móveis no seu interior, todo empoeirado.....
Um casal de bonecos idosos sentados no jardim.

Crianças brincando e adultos secando nabos.


Visto a distancia parecem pessoas reais.

Criança e um idoso (avô?)

Secando alguns legumes ou frutas....


O guarda

Peregrinos descansando


Peregrino chegando

A plantação. Não há terrenos baldios, todos são usados para plantação de verduras ou flores.

Os bonecos são bem bonitinhos. O olhinho é feito com botão de roupas. O corpo é feito com jornais, madeira, arames. de forma que ela consiga dar movimentos ao bonecos.

Crianças brincando. Passar a noite neste local, deve ser meio assustador. 

Olha a velhinha plantando, bem bochechudinha..

Flores do caminho. No mês de maio a cidade e as montanhas ficam floridas e coloridas.

vimos muitas flores dessa espécie. Parecem alface crespa.

Chegando ao templo 13. DAINISHIJI

Templo principal com a imagem de Dainishi Nyorai. Quando Kukai estava nesta região praticando a religiosidade, ele apareceu e disse que neste local ele tinha construído um templo. Então ele esculpiu uma imagem do Nyorai e colocou dentro do templo.

Kannon Bosatsu ( deusa da misericórdia)


Templo 13

A hospedaria ficava ao lado do templo. Esse foi o nosso jantar, com mais arroz e missôshiro. 
Até a próxima postagem. Continuem me seguindo, tem muito mais.



quinta-feira, 9 de maio de 2019

TRILHA DERRUBA PEREGRINO - templo 12



           Essa trilha foi denominada derruba peregrino pelo grau de dificuldade. São 13 km de subida em montanha, quase 900 metros de altitude (Santos a São Paulo e mais um pouquinho). Parecia interminável!!! achei que não fosse conseguir! Num certo momento, deu uma cãimbra no quadríceps, que fiquei assustada. Normalmente, quando faço trilha, sempre levo um gatorade. Eu transpiro muito e perco muito sais. Mas, nem lembrei de procurar um similar. Uma senhorinha me ofereceu pedra de sal, que foi a salvação. Continuamos a subir até encontrar um refugio para descansar, comer alguma coisa e aguardar mais uma pessoa que ficou para trás. Continuamos a subir até o pico da montanha, descemos 100 m de altitude, subimos 220 m, descemos 300 metros e subimos mais 300 metros novamente. Um sobe e desce até chegar, onde está localizado o templo 12.
Subindo a montanha, parei para ver a cidade que ficou lá embaixo e recuperar um pouco o fôlego.

O caminho é bem aberto e preparado para a caminhada. As vezes com troncos formando degraus,

Outras vezes com pedras, mas bem sinalizado.

Há até banquinhos de tronco de árvore para sentar e descansar um pouco. Mas, não dá para perder muito tempo. A trilha leva de 4 a 6 horas...

No caminho para o templo 12 há, no alto da escadaria, uma estátua de Kukai (Kobo Daishi).

Esta árvore foi por ele plantada, e tem mais de 1.200 anos. Como somos insignificantes perante a natureza! Quantas pessoas ainda terão o prazer de vê-la, forte, imponente, quase chegando ao céu, porque já estamos há quase 900 metros de altitude.

Após a longa e cansativa caminhada, que alegria saber que já estamos chegando ao destino.

Uma imagem de um guardião do templo, observa a todos que adentram na área sagrada.

Imagem da deusa Kannon Bosatsu, que protege os Budas.


Imagem do Buda deitado e descansando no paraíso.

Outra deusa Kokuzo Bosatsu. Quando o monge Kukai pretendia visitar este templo, uma gigantesca serpente o interrompeu, incendiando toda a montanha. Kukai foi subindo mesmo assim, recitando os mantras. Pouco a pouco o incêndio foi parando e com a ajuda da deusa Kokuzo Bosatsu ele dominou a serpente e a prendeu em uma cova. Esta cova está localizada dentro do santuário principal, no santuário interno.

uma pausa para respirar e tomar fôlego.

Vista do alto. 

Chegando ao Portal principal de entrada.

Templo principal.

Cedros gigantes centenários ou com mais de mil anos talvez, 

Sino de chegada.Este sino deve ser tocado antes de chegar ao templo principal, nunca ao sair.
Sem perder muito tempo, começamos a descer a montanha. Descendo em direção a pousada, nos deparamos com este monumento em bronze. Uma pessoa ajoelhada pedindo perdão. É uma história que me deixou muito interessada em conhecer mais e mais o Budismo Shingon.



É a lenda de Emon Saburo, qual deu início a peregrinação em Shikoku. Esta lenda data do ano 824. Emon Saburo era um lorde muito avarento e cruel, chefe do clã de Ebara, na província de Iyo. Um dia o monge Kukai, parou em frente a sua porta pedindo comida. Mas, ele foi afugentado com uma vassoura de bambu, qual pegou em sua tigela, que quebrou em oito pedaços. No dia seguinte, os oito filhos dele morreram um atrás do outro, deixando esse homem de coração duro, totalmente desconsolado. Uma noite Kukai lhe apareceu em sonho, dizendo que os oito filhos dele morreram, por culpa dos pecados dele mesmo. E, se ele fizesse o caminho dos templos em Shikoku, como peregrino, poderia pagar os seus pecados. Quando se deu conta, que esse monge dos sonhos, era aquele que ele afugentou com a vassoura, ele saiu a sua procura, para pedir-lhe perdão.
Depois de fazer 20 voltas pela ilha (1400 km cada) sem ter encontrado o monge, já quase sem forças, resolveu fazer o circuito ao contrário. Quando chegou exatamente neste lugar, aos pés do tempo 12, onde está o monumento,  estava quase morrendo quando Kukai apareceu. Este perguntou ao pecador o que é que ele desejava. Saburo lhe respondeu " Na próxima vida, quero renascer na família Kono, da província de Iyo" e deu o último suspiro. Kukai colocou uma pedra em sua mão, na qual escreveu: renascimento de Emon Saburo e rezou pelo seu renascimento.
Tempos depois, um menino nasceu na família Kono, mas não abria uma das mãozinhas. Quando conseguiram abri-la, encontraram a pedra na qual estava escrito: Renascimento de Emon Saburo. Esta pedra está em exposição no templo de nº 51, templo ISHITEJI e a tumba dos filhos de Saburo fica na Cidade de Matsuyama, Província de Ehime, na Ilha de Shikoku.
Esta história é bem intrigante, e saber que esta pedra existe e a história real, é muito mais. Muito bom para refletir.
Exaustos, chegamos à pousada para o banho e o jantar (18h30). Uma delícia!!! embaixo dessa flor de alumínio há um fogareiro para esquentar e cozinhar os legumes e bacon.

Caminha no tatami, com um ededron muito leve e quentinho. As 20h30, o sono já era incontrolável. 
Espero que tenham gostado. Até a próxima postagem.



domingo, 5 de maio de 2019

TERCEIRO DIA DO CAMINHO DOS 88 TEMPLOS - TRILHA DE 22 KM


         

           Após a refeição matinal, que é um almoço para nós, saímos em direção aos templos 7,8,9,10 e 11, numa trilha de nível moderado, com 22 km.  Após 1,5 km, chegamos ao templo 7.


Templo 7- JURAKUJI- É o templo dos dez     prazeres da vida. A imagem neste templo é do Jizo Bosatsu, protetor das crianças, mulheres grávidas e dos viajantes. Há 70 figuras pequenas do Jizo Bosatsu em memória das crianças não nascidas (aborto natural).

Água corrente para fazer a purificação. Lavar as mãos e a boca.

Templo principal onde acendemos as velas, os incessos e deixamos o nosso pedido.

No caminho para o oitavo templo havia essa árvore linda, a magnólia branca. Vimos também a magnólia rosa. A primavera no Japão é muito colorida. As cerejeiras começam a florescer primeiro nesta região (sul). O que mais me impressionou foi a falta de lixeiras pelo caminho. Há flores no chão, mas nenhum outro tipo de lixo. Carregamos nosso lixo até encontrarmos uma lixeira, normalmente encontrados em estabelecimentos comerciais.

Ainda, no caminho havia locais com máquinas de refrigerantes, água, suco, café quente, chá..... Aqui havia lixeira para descartes de vasilhames.

Caminho pelo vilarejo. Há poucas pessoas, na rua, caminhando. Vimos muitas pessoas bem idosas e curvadas, cuidando de jardins ou pequenas plantações. As vezes eu ficava surpresa, porque a velhinha curvada, de repente passava por nós pedalando a bike. 

Após 4,2 km de caminhada chegamos ao templo 8- KUMADANIJI

Portal de entrada do Kumadaniji. O templo principal fica 200 metros deste portal, que foi construído em 1.687.

Pagode no caminho para o templo.

O Altar principal da divindade Kannon Bosatsu fica atrás desse mural com nomes de pessoas falecidas. 



Pagode do templo 8

Nosso grupo de peregrinos do Brasil





Uma escadaria interminável para chegar ao templo principal.

Um pagode bem antigo no alto do templo 8


Seguindo para o templo 9- mais 2,4 km

templo 9- portal de entrada

TEMPLO HORINJI

A divindade do altar principal é Shaka Nyorai (Buda Sakyamuni)

A caminho do templo 10

Havia essas flores que parecia uma alface crespa. Havia também brancas.


As cerejeiras em flor.  


Chegando ao templo 10 - KIRIHATAJI depois de caminhar 3,9 km.





Tocando o sino avisando a entrada 

Purificação

templo 10- KIRIHATAJI dedicado Senju Kannon Bosatsu

Muitos origamis de tsurus pedindo a cura de doenças. Há uma história muito interessante sobre esses origamis. A história de Sadako qual relatarei mais adiante.

templo 10- Quando Kukai passou neste local, ele pediu um pedaço de tecido para remendar sua roupa a uma jovem. Sem vacilar ela lhe deu uma veste nova, fazendo um pedido. Ela queria servir ao Buda. Ela seguiu o caminho e se tornou a Senju Kannon Bosatsu.

templo 10

Descendo em direção ao templo 11.

Caminhando pela rodovia em direção a montanha. O templo fica nos pés da montanha.

Caminhando em direção a montanha.

cruzando o rio de degelo, muito cristalino

Muitas tulipas pelo caminho, em jardins, vasos, na rua...

No caminho havia muitas árvores assim podadas.

Subida a caminho do templo 11, trilha na mata. Após quase 10 km, chegamos.

portal templo 11 FUJIIDERA
Fundado por Kukai em 815, com a estátua de Yakushi Nyorai, 

Templo dedicado a Yakushi Nyorai

Imagem de Kobo Daishi

Imagem de Yakushi Nyora (Buda da Cura das doenças) dentro do altar principal.

Chegando na hospedaria familiar.  Muito cansada. Não via a hora de tomar banho, relaxar o corpo, jantar e dormir.

Jantar na hospedaria. A apresentação dos pratos e os recipientes são muito bonitos.
O cansaço era tão grande que dava 20h30 o sono já era incontrolável. Estava muito cansada e ansiosa, uma vez que a trilha do dia seguinte foi denominada "derruba peregrino" pelo grau de dificuldade.
Amanhã continuo o relato. Espero que tenham apreciado as fotos.